MP diz que guardas que sequestraram suspeito de golpe premeditaram o crime: 'Já falei que vou levar pra favela se não chegar o dinheiro'
27/06/2025
(Foto: Reprodução) A promotoria pediu a condenação dos réus por quatro crimes: cárcere privado, roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro. As penas somadas passam de 60 anos de prisão. MP diz que guardas que sequestraram suspeito de golpe premeditaram o crime
A alegação final do MP na denúncia sobre três suspeitos - de sequestrar e extorquir dinheiro de um homem em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, trouxe novas provas sobre o caso. Entre os suspeitos estão dois guardas municipais que estavam de serviço durante o crime e teriam fingido que eram policiais civis.
Áudios obtidos pela investigação mostram, segundo o MP, que o crime foi premeditado. Em um deles, o guarda municipal Igor da Rocha Maia fala livremente sobre o crime em conversas com comparsas e a namorada.
Às 9h58 do dia 8 de dezembro de 2024, Igor enviou a um amigo: "Vou sequestrar uns moleques que prendi, mas tirei o flagrante deles para serem soltos. Os malucos de São Paulo do Boa Noite Cinderela. Tô esperando saírem".
Depois, para a namorada, ele fala sobre o valor do resgate: "R$ 25 mil para cada, tô com o cara no carro mandando vir o dinheiro. Já falei que vou levar pra favela se não chegar o dinheiro agora. Tá ligando pra Deus e o mundo pra não morrer".
📸Clique aqui e siga o perfil do RJ1 no Instagram!
✅Siga o canal do g1 Rio no WhatsApp e receba as notícias do Grande Rio direto no seu celular.
Em depoimento, a vítima disse que passou a noite sendo ameaçada de morte e apanhando.
Igor chega ainda a reclamar do valor em umas mensagens: "Já baixou pra R$ 50 mil. A desculpa deles de mais cedo é que eles tinham dinheiro, mas não tinham como movimentar no pix hoje porque era domingo, tá ligado? Tava falando aqui com o Jeferson, bagulho é eu, ele, e dois polícia, aí tem que perder o do pix pra você.. a conta não fecha".
Jeferson Batista da Silva é o outro guarda municipal envolvido no esquema, que também foi preso, junto com Deividson Vieira de Assis, que teria cedido o espaço onde foi feito o cativeiro.
Os guardas, identificados como Jeferson Luiz Batista da Silva e Igor da Rocha Maia, foram presos no local. Um terceiro comparsa, Deividson Michael Vieira de Assis, também foi preso em flagrante.
Reprodução/TV Globo
Para chegar até o sequestro, a situação começou um pouco antes: dois suspeitos do golpe Boa Noite Cinderela foram reconhecidos em uma boate em Copacabana, na Zona Sul. Os guardas estavam trabalhando como segurança e foram alertados pelo gerente.
Igor e Jeferson abordaram a dupla, se apresentaram como policiais civis e levaram os dois para a delegacia, onde só um ficou preso porque estava foragido. O homem liberado acabou sequestrado na saída da delegacia.
Com a investigação, a polícia descobriu que os distintivos que eles mostraram eram falsos.
"Ele não teve qualquer pudor em relatar como planejou esse sequestro. Não é algo isolado na vida dos acusados. O acusado Igor se vangloria de já ter feito sequestros anteriormente, inclusive de integrantes de uma torcida organizada de um clube do RJ. Ele usa a palavra sequestro, sem qualquer pudor, pra dizer que sequestrou fulano de tal, que vai sequestrar a vítima que sair da delegacia", destaca o promotor Eduardo Pinho.
A promotoria pediu a condenação dos réus por quatro crimes: cárcere privado, roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro. As penas somadas passam de 60 anos de prisão.
Além disso, o promotor do caso quer a expulsão de Igor da Rocha Maia e Jeferson Batista da Silva da Guarda Municipal.
O que dizem os envolvidos
O advogado dos guardas municipais Igor da Rocha Maia e Jeferson Batista da Silva não quis se manifestar sobre as acusações.
A defesa de Deividson Vieira de Assis disse que ele é motorista de aplicativo e que não participou do sequestro.
A Guarda Municipal informa que há um processo na Corregedoria da instituição em fase de indiciamento. Os envolvidos foram afastados das suas funções e das ruas desde o dia 9 de dezembro de 2024.